Publicado em 17 de Março de 2017 às 10:45
De suas nascentes localizadas em Montezuma, Norte de Minas Gerais, até a foz em Canavieiras, Bahia, quando desagua no Oceano Atlântico, o Rio Pardo percorre 565 km e 26 municípios. Os territórios norte mineiros e baianos banhados pelo rio usam de suas águas para atividades como pecuária e agricultura, mas sofrem cada vez mais com a seca e degradação do Rio Pardo.
Com o intuito de fortalecer iniciativas populares de proteção ao rio, a Articulação da Bacia do Rio Pardo vem se mobilizando e unindo diferentes agentes envolvidos na temática. Durante os dias 14 e 15 de março, a Articulação realizou o Seminário “Construindo sintonia da nascente à foz” na comunidade de Pau D’Arco, em Montezuma, Norte de Minas Gerais. Participaram do seminário representantes de Povos Tradicionais dos territórios da bacia do Rio Pardo de Minas Gerais e Bahia, além de representantes de sindicatos de trabalhadores rurais, Emater, secretarias municipais, movimentos sociais e organizações da sociedade civil.
Maicon de Andrade, do Centro de Estudos e Ação Social - CEAS, lembrou que todas as ações da Articulação da Bacia do Rio Pardo são desdobramentos de uma histórica luta de populações tradicionais: "Contamos com este saber, esta tradição, para avançar. Nas nossas andanças entre Minas e Bahia, percebemos que nossos conflitos eram o mesmo, e estamos aqui agora como fruto desse processo". A estratégia levantada é fomentar pequenas ações de incidência local, que possam se articular processualmente num “grande mutirão” pela revitalização do Rio Pardo. "Começamos a perceber que o processo de degradação do rio não é natural. É a monocultura de eucalipto, a mineração, o latifúndio. Estamos lidando com a forma que o sistema capitalista colocou no campo: produzir para extrair lucro", sustentou Maicon.
O seminário teve início na terça-feira, 14, com uma reunião na sede da Associação da comunidade de Pau D’arco, em Montezuma. Ao pé da Serra de Montezuma, próximos das principais nascentes do rio, cerca de 50 participantes resgataram a memória da Articulação, levantaram ações de resistência que estão sendo desenvolvidas na Bacia e debateram em grupos o planejamento para novas ações regionalizadas.
Elmy Soares, liderança geraizeira, destacou a luta de Povos e Comunidades Tradicionais pela retomada de territórios como uma ação estratégica para a preservação das terras e das águas. "A diversidade de populações e riquezas culturais que da Bacia do Rio Pardo é muito grande e vem sendo perdida. Mas enquanto há vida há esperança. O rio não morreu ainda, e nós não vamos deixar morrer". A concepção de que impactos vividos nos territórios são comuns às diversas populações do entorno do rio, afetando recursos naturais e modos de vida essenciais à proteção ambiental, norteia os principais princípios da Articulação: a construção conjunta de ações junto a comunidades locais e a valorização de saberes tradicionais de relação sustentável com o Cerrado e suas águas.
No último dia do seminário, quarta-feira, 15, os participantes subiram até a Serra Pequena, onde puderam observar e refletir sobre as diversas partes que compõem o Rio Pardo. “Quando a gente fala de Bacia do Rio Pardo, temos que pensar em todos os elementos do rio”, apontou Anna Crystina, do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas – CAA/NM, explicando as diferentes formas de uso e ocupação das chapadas, encostas e baixadas do Rio Pardo. “Por isso, também discutimos a questão do agroextrativismo, da criação de animais, da sobrevivência dos Povos Tradicionais que vivem nesses lugares. Todos estes elementos fazem parte da bacia e precisam ser pensados em conjunto”.
O seminário foi concluído com a ida até a principal nascente do Rio Pardo, na propriedade de seu Geraldino José da Silveira. Ali, aonde as águas que chegam até a Bahia são geradas sob os cuidados do ancião geraizeiro, foram plantadas mudas de espécies nativas produzidas na comunidade de Água Boa, Rio Pardo de Minas.
Como encaminhamento do seminário, foram sistematizadas ações a serem desenvolvidas, além de estratégias para a comunicação e mobilização entre os diversos membros da Articulação da Bacia do Rio Pardo. Entre ações planejadas, destacam-se atividades como: cercamento de nascentes; ações de educação e conscientização ambiental; realização de intercâmbios com comunidades que desempenham medidas de proteção ao rio; construção de bacias de contenção; garantia de gestão dos territórios tradicionais instituídos e em processo de luta, dentre outros.
Apoiam a Articulação da Bacia do Rio Pardo:
CAA/NM, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rio Pardo, Projeto Bem Diverso, PNUD, Embrapa, CEAS, HEKS e Niisa/Unimontes.
Postado por: Cibelih Hespanhol Torres
Editado por: Cibelih Hespanhol Torres