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Apanhadores de flor e quilombolas debatem agrobiodiversidade e soberania alimentar

Publicado em 6 de Julho de 2017 às 15:48

Apanhadores de flor e quilombolas debatem agrobiodiversidade e soberania alimentar

Por Gabriel Dayer, da equipe CODECEX

 

Gondó, embaúba, umbigo de banana, broto de samambaia, serralha, almeirão, fubá, galinha caipira, couve, coentro, jiló, feijão e mandioca. Estes foram alguns dos ingredientes que deram cores e sabores ao almoço de abertura da oficina “Agrobiodiversidade, soberania alimentar e resiliência”, ocorrida nos dias 30 de junho e 01 de julho de 2017 na comunidade quilombola Raiz, em Presidente Kubistchek - MG. Todos os alimentos citados são cultivados nos terreiros, nas roças ou coletados em áreas de uso comum acessadas pelas/os moradoras/es locais. Cada receita carrega uma sabedoria e cada conhecimento traduz experiências. São sabores que sugerem um imenso repertório cultural associado às práticas agrícolas, alimentares e extrativistas historicamente experimentadas pelos povos tradicionais da região de Diamantina.

 

Receitas da cultura alimentar de Raiz foram apresentados durante a oficina. Foto: CODECEX.

 

A oficina foi promovida pela Comissão em Defesa dos Direitos das Comunidades Extrativistas (CODECEX) em parceria com o Núcleo de Estudos em Agroecologia e Campesinato (NAC/UFVJM). Além das/os moradoras/es de Raiz, participaram representantes das comunidades quilombolas e apanhadoras de flores sempre-vivas de Vargem do Inhaí e da Mata dos Crioulos, localizadas em Diamantina - MG.

Após apresentação das receitas da culinária tradicional da comunidade acolhedora, ocorreram conversas sobre o tema da agrobiodiversidade, isto é, sobre a biodiversidade cultivada, conservada e promovida pelas/os agricultoras/es nos diversos ambientes - terreiro, roça e “natureza”. Dos momentos de diálogos entre as/os participantes foram listadas uma imensidade de espécies e variedades alimentares. Moradores/as de Vargem do Inhaí, por exemplo, manejam mais de vinte variedades de mandioca e mais de dez variedades de cana. Pelo menos doze variedades de feijão e nove de banana podem ser encontradas na Mata dos Crioulos. Dentre as criações destacam o gado curraleiro ou Pé-duro – reconhecido como patrimônio cultural nacional – e várias raças de galinha.                          

Em outro momento da oficina, Dona Efigênia e Carlinhos de Raiz apresentaram os cultivos da horta e da roça. Já a moradora conhecida como Preta contou sobre os desafios enfrentados, a trajetória de luta e as conquistas da comunidade. Certificada como remanescente quilombola pela Fundação Cultural Palmares, Raiz é conhecida pelos artesanatos produzidos com sempre-vivas, particularmente utilizando o “capim dourado” ou “sedinha” como é conhecido localmente. A maior parte do território ancestral da comunidade foi expropriado e encontra-se ecologicamente ameaçado pelo implantação de monocultivos de eucaliptos. Por sua vez, as comunidades Vargem do Inhaí e Mata dos Crioulos lutam por direitos e pela retomada de seus territórios violentamente expropriados com a criação de Unidades de Conservação de Proteção Integral: o Parque Nacional das Sempre Vivas e o Parque Estadual do Rio Preto, respectivamente.

 

Participantes conversam na roça. Ao fundo, a ameaça representada pela expropriação territorial e pelo monocultivo de eucalipto. Foto: Codecex.

 

O rico patrimônio cultural e genético representado pelas raças e sementes crioulas ou tradicionais manejadas pelos povos tradicionais, fortalece a soberania alimentar e nutricional das comunidades do campo. Como soberania alimentar compreendemos o direito dos povos a uma alimentação saudável sempre, de acordo com suas culturas e seus territórios. Em outras palavras, é o direito de produzir, se alimentar e comercializar de acordo com os modos de ser e de viver nos seus ambientes.

 Entre as principais estratégias de conservação da agrobiodiversidade e de garantia da soberania alimentar acionadas pelas/os agricultoras/as estão as práticas tradicionais de conservação e de troca de sementes. Foi justamente esta prática que animou o momento final da oficina, celebrando o encontro entre as comunidades tradicionais, a partilha das sementes, a resistência camponesa e o florescer da luta social na região.  

 

Dona Efigênia mostrado sua horta e o momento de partilha de sementes crioulas. Foto: CODECEX

 

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As/os apanhadoras/es de flores sempre-vivas organizados na Comissão em Defesa dos Direitos da Comunidades Extrativistas (CODECEX) compõe a Articulação Rosalino de Povos e Comunidades Tradicionais. A CODECEX executa em parceira do CAA-NM e com a HEKS-EPER um projeto de assessoria técnica e jurídica às comunidades tradicionais apanhadoras de flores sempre-vivas e quilombolas da região de Diamantina, MG.

 


Postado por: Cibelih Hespanhol Torres