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Romaria reafirma RDS como proposta de conservação do Cerrado e das águas

Publicado em 31 de Outubro de 2017 às 16:51

Romaria reafirma RDS como proposta de conservação do Cerrado e das águas

Pouco a pouco foram chegando ônibus de diversas comunidades do município de Riacho dos Machados e municípios vizinhos. Em pouco tempo, já estavam reunidas mais de 500 pessoas. A I Romaria em Louvor a Nossa Senhora Aparecida em defesa das Águas e do Território, ocorrida no último dia 21 de outubro, em Riacho dos Machados, iniciou-se com um de café sertanejo. Cantos e abraços embalaram a acolhida, onde cada um se achegava para cumprir juntos e juntas a missão do dia: defender o Cerrado e a Caatinga e instituir como lugar sagrado uma das últimas fontes de água do município, localizada na comunidade Paraíso.

As reflexões se iniciaram em frente à igreja, com acolhida e benção inicial dirigida pelo Padre João Batista, pároco da Paróquia Santo Antônio e Frei Pedro, da paróquia São Geraldo do município de Salinas. Na primeira parada, Joeliza Brito, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Riacho dos Machados, deu início ao evento, reforçando o sentido da Romaria: “este momento é importante porque estamos juntos, para proteger a mãe natureza, o nosso Cerrado e a água, tão ameaçados nos dias de hoje. E também dar um passo a mais na concretização da RDS Tamanduá”, afirma.

Na segunda parada, Eliseu José de Oliveira do CAA-NM fez uma reflexão sobre o território e identidade geraizeira. “Todos os geraizeiros e comunidades precisam unir para conservar um território maior do que a sua propriedade. Não basta só conservar a nossa casa. Tem os espaços coletivos, que contribuem para conservar o nosso modo de vida, o modo de trabalhar a terra, com o seu modo de conservar o Cerrado e as águas”.  E completou: “Esta romaria é um passo na caminhada para criação da RDS. Eu estou aqui para afirmar pra vocês que é possível. Em Rio Pardo de Minas nós já fizemos uma caminhada de luta. Comunidades já retomaram territórios porque a gente já tem consciência dos limites do nosso território. Teve outra luta, onde nós usamos várias estratégias, percorremos vários passos e conseguimos a criação da RDS Nascentes Geraizeiras. A reserva é de muita importância não apenas para você que mora dentro dela, mas para toda a sociedade, para nós que estamos em Montes Claros e para o mundo”.

A terceira parada teve como tema de reflexão as águas. Alexandre Gonçalves da CPT refletiu sobre a importância da água para nossa vida e a consequência dos usos que se fazem dela na atualidade. “A água é nossa vida, nosso corpo é água, sem água não existe vida. Quando o Papa Francisco fala sobre o cuidado com a casa comum, nós podemos pensar a água como um bem comum. Todo mundo tem direito a ter acesso a água. Água como bem comum, é a comunidade tem que definir quais são os rumos da água, se a agua vai para a indústria, grandes fazendas, para agronegócio, ou abastecer a comunidade”. Denunciou ainda sobre o uso da água para fins comerciais e a contribuição para a grave crise hídrica vivenciada no município e em toda a região. “Os grandes projetos, empresas, veem a água como fonte de lucro, querem agua para lucrar. Por isso que vivemos uma grave crise no mundo inteiro. Os rios grandes estão secando, as barragens no nível morto. E está acabando porque estão sendo usadas para os grandes projetos e empresas que estão tendo lucros. Na região existe barragem para o agronegócio, barragem para empresas de eucalipto, para mineração e o povo passando sede. Nosso compromisso é o cuidado com a Casa Comum, com a água para nós e para as futuras gerações”.

Para Frei Pedro, coordenador do projeto Transformação Justiça Socio Ambiental de Salinas, parceiro na realização da Romaria, foi um encontro maravilhoso de crianças, jovens, adultos, velhos, todos rumo ao objetivo de proteger a Casa Comum, como recomenda o Papa Francisco na encíclica Laudato Si . “Ao pedir a defesa do território e das águas, juntos, existe uma troca de informação e o fortalecimento de uma luta que não é somente dos povos e comunidades tradicionais, no caso os geraizeiros, mas de todos nós. São estas comunidades que nos ensinam a cuidar da natureza e a viver a busca pela vida em abundância para todos”.

Antes da Romaria, ocorreram três dias de missão nas comunidades da área da RDS, cujos territórios estão fortemente impactados pela mineração e monocultura de eucalipto, ocasionando graves problemas ambientais, sendo o mais grave deles a mercantilização da água pelos grandes empreendimentos de monocultura e mineração e o consequente secamento das fontes hídricas.

Riacho dos Machados

O município de Riacho dos Machados está localizado em um dos topos aplainados da Serra do Espinhaço, na microrregião da Serra Geral de Minas Gerais. A área conhecida como Gerais é onde Povos e Comunidades Tradicionais praticam o extrativismo de frutos diversos, plantas medicinais, madeiras para diversos fins, mel silvestre, entre outros. Produtos importantes para suas estratégias agroalimentares e econômicas. Esse modo de vida vem sendo ameaçado pelo processo desenvolvimentista, como monoculturas de eucalipto e pinhos e a mineração, que acentuam os impactos das mudanças climáticas em curso no mundo, com grande demanda de água e terra, desestruturando as lógicas tradicionais de uso e manejo do ambiente, acentuando a pobreza rural e o êxodo da população rural, atingindo principalmente a juventude que não vê possibilidades econômica e ambiental para se manterem.

RDS Tamanduá

A RDS é um tipo de unidade de conservação que abriga populações tradicionais, cuja existência baseia-se em sistemas sustentáveis de exploração dos recursos naturais, desenvolvidos ao longo de gerações respeitando toda a diversidade ambiental que existe no lugar. É uma forma que busca proteger a natureza, no caso o Cerrado, possibilitando que as populações vivam em uma área mais protegida e continuem mantendo o seu modo de vida tradicional. Já está tramitando no ICMBio – Instituto Chico Mendes de Biodiversidade , uma proposta da RDS Tamanduá, que será criada no município de Riacho dos Machados.  Os estudos para identificação e delimitação da RDS iniciaram em 2012. Até o momento já foram realizados os estudos fundiários e o cadastramento das famílias que vivem na área. “O próximo passo são as consultas públicas. Estamos animados para lutar pela concretização da RDS”, afirma Joeliza.

 

Confira o trajeto no vídeo: 

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Postado por: Paula Lanza Barbosa
Editado por: Indinayara Francielle Batista Gouveia