Publicado em 4 de Setembro de 2017 às 11:35
Nos dias 24 e 25 de julho, trabalhadores e trabalhadoras rurais de diversas comunidades de Rio Pardo se encontraram na cidade para celebrar o Dia do Trabalhador e Trabalhadora Rural, em momento de reflexão sobre a crise hídrica regional e a retirada de direitos devido às últimas decisões do atual governo. O encontro começou com celebração da Santa Missa, seguindo de um ato político que caminhou até um clube da cidade onde foi realizado o momento cultural. O evento foi encerrado na terça-feira com o seminário “Recursos Hídricos – Estocagem de água das Cabeceiras das Nascentes aos Leitos dos Rios Pardo e Preto”.
Elmy Pereira Soares, presidente do STTRRPM, explica que neste ano as comemorações foram pensadas de maneira diferente: “Há 7 anos o sindicato vem realizando eventos em comemoração ao dia do trabalhador rural. Esse ano a gente optou por um momento de mais reflexão, de planejamento e de ações para organizar ações que venham suprir a necessidade do trabalhador, porque estamos diante de crises econômicas, sociais e ambientais”, explica o presidente.
Para os agricultores, o evento correspondeu às expectativas. Maria do Carmo da Silva, da comunidade de Moreira, conta que as atividades a fizeram se sentir em casa e refletir sobre o atual contexto que está vivendo: “Eu acho que foi algo que a gente se sentiu no lugar da gente, comemorando aquilo que é nosso, aquilo que a gente vive. Apesar dos problemas e de muitas vezes não ter o que comemorar, temos de celebrar o significado de viver e de tá lutando”. Ainda segundo a trabalhadora, o momento é preocupante e merece atenção.
Durante os dois dias, a união de toda a sociedade em prol de mudanças foi algo levantado por todos. Padre Genivaldo Ponciano dos Santos, da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, reforçou a importância do momento em reunir os trabalhadores: “Eu vejo que isso é muito importante porque não se vê conquista sem união, sem comunhão, sem luta, sem disponibilidade, sem esperança e sem essa certeza de que juntos seremos mais fortes e alcançaremos nossas vitórias”, Padre Genivaldo também destacou a importância de celebrar e reconhecer o valor pela dignidade da vida dos agricultores e agricultoras.
“Plantar água para colher nascente”
Durante o seminário “Recursos Hídricos – Estocagem de água das Cabeceiras das Nascentes aos Leitos dos Rios Pardo e Preto”, realizado na terça-feira (25) em uma parceria do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Rio Pardo (STTRRPM) de Minas, Câmera de Vereadores, Prefeitura e Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável, a discussão sobre a falta de água na região se fez presente. Organizações sociais, sindicatos, autoridades públicas e trabalhadores da região refletiram formas de recuperação das nascentes e a importância de executar ações para que isso seja possível.
Leninha Souza, coordenadora da Articulação do Semiárido – ASA e articuladora política do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas – CAA/NM, explica que “Plantar água para colher nascente” é um lema importante no momento em que se enfrenta uma crise hídrica: “Plantar água significa colocar mais água no solo, para ser infiltrada, para alimentar o lençol freático, para que as nascentes possam ter vigor, possam ter força, e os afluentes possam fortalecer a calha dos rios. No caso da bacia do Rio Pardo são várias nascentes e afluentes e é nessa perspectiva que o sindicato, as cooperativas, agricultores e agriculturas geraizeiros desse território vem demostrando que é possível sim produzir água no sistema. ”, explicou.
Para José Ferreira do Nascimento, presidente da Associação dos Trabalhadores de Sobrado, essa discussão precisa ser feita o quanto antes: “Se a gente tivesse acordado a 20 anos atrás, talvez a gente não estaria discutindo isso hoje. Esses momentos ajudam a gente valorizar o que a gente tem”.
O vereador Zé Saruê concorda com o trabalhador rural, segundo ele Zé Saruê a sociedade poderia ter feito algo antes: “Podemos dizer no presente que na ganância do homem nós conseguimos matar o nosso rio”. No entanto, ele acredita que é possível recuperar todo vale do Rio Pardo, mesmo que isso não aconteça imediatamente.
Conscientizar a comunidade é uma ação importante a ser feita. Marcus Vinicius de Almeida Ramos, prefeito de Rio Pardo, acredita que o esforço para recuperar os recursos hídricos vem das famílias: “A gente muitas vezes espera que as coisas aconteçam de cima pra baixo, quando na verdade as mobilizações mais fortes acontecem de baixo para cima. É preciso que as pessoas se conscientizem, que os agricultores entendam que hoje é preciso recuperar a nascente que tem em seu terreno e que ele se esforce para produzir sem agredir as nascentes de água”.
Apesar da dificuldade para a recuperação das águas, é preciso acreditar que existe essa possiblidade. É o que defende Eliseu José, diretor geral do CAA/NM: “Essa questão das águas que nós acompanhamos ao longo dos anos com o secamento das nascentes e dos rios, tem parcela de causa da nossa ação humana que vem contribuindo muito. E se tem parcela de contribuição nossa, significa que nós também podemos recuperar. Vai depender de um tempo razoável, mas é possível”, concluiu.
Soter Magno, o ambientalista, acredita na força e impacto que o seminário pode refletir na região: “Um evento desses é importante para trazer conhecimento, conscientização e abrir uma discussão sobre os recursos hídricos, principalmente aqui na região que vem sofrendo muito com a escassez da água. Uma região que tinha muita água e em função do desenvolvimento sustentável da região no trouxe a essa situação que nos preocupa muito”.
Postado por: Indinayara Francielle Batista Gouveia