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Juventude Xakriabá reafirma o seu papel na luta por direitos

Publicado em 1 de Novembro de 2017 às 18:22

Juventude Xakriabá reafirma o seu papel na luta por direitos

“Nós nunca deixamos herança pra ninguém. A nossa herança é a luta, que vai chegar pra quem tá pequeno, quem tá nascendo e quem ainda não veio”, disse de forma firme seu Valdemar, ancião e liderança da Aldeia Prata. Foi atendendo a esse chamado de continuidade da luta que os jovens realizaram o I Encontrão da Juventude Xakriabá, na Aldeia Imbaúba, entre os dias 17 e 19 de outubro. Participaram cerca de 800 jovens, vindos de dezenas de aldeias do território, além de representantes da juventude dos povos Pataxó e Tupiniquim da Bahia, geraizeiros, catingueiros, quilombolas e apanhadores de flores sempre-vivas da Articulação Rosalino Gomes de Povos e Comunidades Tradicionais. E ainda o Secretário Estadual de Direitos Humanos Nilmário Miranda e parceiros como CIMI, CAA-NM, IFET e UFMG.

Durante os três dias, os participantes refletiram sobre temas como identidade, cultura, espiritualidade, terra e território, a partir do debate conduzido por anciões, caciques, lideranças, jovens e parceiros. Também foram debatidas as “mudanças do tempo”, como são chamadas pelos mais velhos do Povo Xakriabá as mudanças climáticas, fatores que influenciaram diretamente sua relação com a natureza. “É muito importante que os jovens tenham consciência que tínhamos no território bastante água, bastante rios e hoje já não temos mais. Isso tem mudado o nosso modo de plantar, de criar, a nossa espiritualidade. Nós precisamos fazer algo para adaptar e também combater essa situação. É obrigação de cacique, da liderança, mas é papel de cada pessoa batalhar para que as futuras gerações não venham sofrer tanto com isso”, reforçou o cacique Domingos Xakriabá.

O Encontro destacou o papel das escolas indígenas, principalmente dos professores no fortalecimento da cultura e no diálogo com a juventude e crianças, para manter vivas as tradições. Alvina, professora de cultura da aldeia Riacho dos Buritis, reforçou a importância da organização dos jovens para ocuparem um lugar cada vez mais ativo e consciente nas lutas. “O processo de preparação deste encontro já surtiu muito efeito. A gente observa a juventude ativa, indo à frente, colocando o seu pensamento e sentimento. É isso que fortalece a nossa luta, o sentimento que a juventude dá seguimento à luta”, afirma. O cacique Domingos reforçou o conhecimento como uma grande arma do Povo Indígena. “Nós temos que ter a ciência que hoje a maior e pior arma que existe contra nós, contra nosso povo, é a caneta. É ela que está nas mãos de todos aqueles que estão assinando as leis, detonando os nossos direitos. Temos que ter consciência de usar os nossos estudos, os nossos conhecimentos contra as armas que os homens brancos têm contra nós”.

Lutar contra o epistemicídio

Célia Xakriabá lembrou que enquanto jovens, é importante fazer o caminho de ida para o mundo e também de volta para o seu chão, “ser uma árvore alta sem perder as raízes profundas”.  Lembrou ainda que a maior violência cometida contra os povos indígenas é o epistemicídio, o assassinato do seu conhecimento tradicional. “Quando matam o nosso conhecimento, nos matam coletivamente, assim como quando negam o nosso território indígena. É uma morte não somente como o assassinato de Rosalino, é quando negam o nosso conhecimento, o nosso modo de vida, a nossa liberdade e autonomia alimentar que não existem sem a garantia do nosso território”, desabafa.

 

Alianças das juventudes

Para Bruno Tupinambá, a força do Encontrão está no diálogo da juventude com os anciões, maior força espiritual que sustenta a luta do povo indígena. “Eu vou levar para o meu povo e por onde andar as lições que aprendi aqui. Eu vi jovens sendo multiplicadores de sua própria cultura, sendo protagonistas, uma força e organização bonita de se ver”.  Diego Pataxó reforçou o papel da juventude no presente. “Nós jovens não somos o futuro, somos já o presente. No futuro vamos lutar pelos nossos filhos, para as novas gerações que vão vir. Inserir nessa luta não é mais do que a nossa obrigação”.

Para a juventude da Articulação Rosalino Gomes de Povos e Comunidades Tradicionais, o encontro foi um momento de reflexão do papel da juventude nas lutas e renovação da espiritualidade. João Paulo Soares, jovem camponês do município de Coração de Jesus, reforça que o momento possibilitou compreender que as juventudes dos povos vivem o mesmo desafio de enfrentar a repressão e a negação de seus direitos. Wesley Albert Ferreira, do Quilombo de Raíz, município de Juscelino Kubitschek, declarou: “o encontrão foi um momento valioso, porque a gente aprende muito com as histórias de luta deles, com a qual eu me identifico muito, uma realidade muito parecida com a minha comunidade”. Para Cláudio Jerônimo Gabriel, do quilombo de Maria Nunes, comunidade que está no início do processo de auto reconhecimento, “o encontro fez refletir sobre novas ideias, sobretudo as reflexões sobre identidade e espiritualidade”, aprendizados que vai levar para a sua comunidade”. 

Na visão de Maria Helena Brito, jovem catingueira, liderança do município de Porteirinha, foi possível perceber a importância do Povo Xakriabá para os outros povos e comunidades tradicionais do Norte de Minas. “A juventude Xakriabá se mostrou protagonista, organizada e articulada para defender seu território, o seu povo. Sentir a energia daqueles jovens nos fortalece e nos faz querer lutar cada vez mais”. Para a jovem, momentos como esse reforçam a importância dos mais velhos e da identidade como pilar que sustenta a luta dos povos e comunidades tradicionais “É com um olhar no passado, nossas raízes, que nos faz lembrar de onde viemos e pensar o presente”.

No penúltimo dia foram construídas propostas relacionadas às temáticas debatidas no evento, ações voltadas para o fortalecimento do protagonismo da juventude dos povos e comunidades tradicionais. Dentre as propostas, se destaca a ampliação da participação da juventude na articulação e a realização do Encontro da Juventude da Articulação Rosalino Gomes. “Um encontro com os jovens da Rosalino já é um passo para assim construir e engajar mais jovens na luta, pois vemos que a juventude tem sede de conhecimento e de luta”, finaliza Leninha Alves, coordenadora de articulação política do CAA-NM.

Articulação Rosalino Gomes

A Articulação Rosalino Gomes de Povos e Comunidades Tradicionais se consolida hoje como espaço de articulação e de construção de alianças envolvendo a diversidade tradicional da região do Norte de Minas e Alto Vale do Jequitinhonha. Participam desta articulação os indígenas dos territórios Xakriabá e Tuxá, comunidades Quilombolas, Geraizeiras, Vazanteiras, Veredeiras, Catingueiras e Apanhadoras de Flores.

Confira, no link abaixo, a Carta do I Encontro da Juventude Xakriabá:

https://caa.org.br/media/publicacoes/CARTA_DO_I_ENCONTRO_DA_JUVENTUDADE_XAKRIABÁ.pdf

 

 

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Postado por: Paula Lanza Barbosa
Editado por: Indinayara Francielle Batista Gouveia