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A unificação dos povos como estratégia de luta

Publicado em 15 de Outubro de 2015 às 15:26

A unificação dos povos como estratégia de luta

  Por Cibelih Hespanhol

      Indígenas, quilombolas, apanhadores de flor, geraizeiros, vazanteiros, veredeiros, catingueiros: são muitos os povos e comunidades tradicionais de Minas Gerais e do Brasil. Vivendo de forma comunitária, partilhando tradições, costumes e saberes herdados por gerações, cada povo possui sua própria especificidade – o que faz com que uma pessoa nascida nos Gerais afirme: “sou geraizeiro” é a identificação íntima com uma forma de viver da qual está acostumada desde sua nascença. Apesar das diferenças, que enriquecem as raízes culturais brasileiras, há algum tempo os povos e comunidades vêm se unindo em reivindicações comuns pela garantia de seus territórios e direitos.

            Entre os dias 05 e 07 de outubro, 200 pessoas, entre povos e comunidades tradicionais e organizações de apoio, realizaram mobilizações políticas em Brasília. A programação uniu povos de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Bahia, Tocantins e Espírito Santo, que ocuparam a Câmara dos Deputados (5) em vigília noturna pelo assassinato de suas lideranças, participaram de audiências públicas na Comissão de Direitos Humanos e Minorias e marcharam até o Palácio do Planalto (7) reivindicando o fim da PEC 215 e da ação de milícias armadas. Um Documento Político da Mobilização  foi protocolado para a Presidência da República.

            Em uma das audiências da Câmara, Hilário Xakriabá, do povo indígena Xakriabá, compôs a mesa presidida pelo deputado Luiz Couto (PT-PB), que discutiu a violência contra populações no campo. A fala de Hilário lembrou a necessidade de união entre os povos: “é interessante lembrar que quando falamos dos povos, existe esta fragmentação que o próprio modelo [capitalista] impôs para tentar nos dividir. O modelo que a bancada ruralista coloca, de cima pra baixo, aponta para as comunidades tradicionais tentando nos colocar como inimigos uns dos outros. É por isto que nós hoje estamos aqui, enquanto cada povo, mas representando toda uma massa de pessoas. Tentam fazer os pequenos brigar. Mas nós estamos unidos”.

       “Os povos começaram a descobrir que sozinhos não resolvem as coisas. Várias pessoas começaram a se unir, para lutar em conjunto”, afirma Braulino Caetano, geraizeiro e representante da Articulação Rosalino. Nascida em 2013, a articulação leva o nome do cacique Xakriabá Rosalino Gomes de Oliveira, assassinado por fazendeiros em 1987 durante conflito por território. Para os indígenas Xakriabás, Rosalino foi enterrado, mas era semente: despertou a disposição para o enfrentamento político naqueles que ouviram sua história. Um de seus frutos é a articulação, que hoje se expande como aliança entre povos e comunidades do Norte de Minas, apoiando lutas territoriais.

      Lutar pelo território nas mãos dos povos é uma bandeira defendida pela Agroecologia, campo de conhecimento transdisciplinar que estuda os agroecossistemas por meio da articulação entre conhecimento científico, práticas sociais e culturas tradicionais. “A Agroecologia é muito construída dentro das próprias dinâmicas dos povos tradicionais, que são pilares importantes para o conhecimento agroecológico”, afirma Luciano Ribeiro, coordenador do Eixo Agroecologia do CAA/NM. Luciano destaca a relação dos povos e comunidades tradicionais com o ambiente como uma lógica de bem viver: “É diferente do capitalismo, que usa a terra como base pra geração de riqueza. A lógica camponesa é de que o ambiente dê condições para que a família viva bem, é a lógica do bem viver. Assim, os povos construíram alternativas técnicas e metodologias de lidar com o ambiente que faziam com que ele servisse para a produção e para as gerações futuras. E isto tem muito a ver com a cultura local de cada povo, e as condições que o ambiente dá. Por isso a Agroecologia se constrói a partir de dinâmicas locais, na relação entre o homem e a natureza”.

       Um povo que retoma seu território não é apenas um grupo de pessoas ganhando acesso ao chão necessário para viver e plantar. É, ainda, a garantia de que conhecimentos tradicionais sobre a lida com a terra continuarão vivos e sendo transmitidos – algo especialmente precioso em tempos de crises que denunciam, cada vez mais, a insustentabilidade social, cultural e ambiental do sistema capitalista globalizante.

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Postado por: Cibelih Hespanhol Torres