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Sem Feminismo não há Agroecologia

Publicado em 28 de Março de 2016 às 15:12

Sem Feminismo não há Agroecologia

As primeiras ações com grupos de mulheres dentro do CAA/NM foram articuladas através do Ater Agroecologia, no Núcleo Territorial do Alto Rio Pardo. O trabalho nas comunidades de Água Boa, Vereda Funda e Monte Alegre teve início no começo de 2015, e contou com a parceria dos projetos da Economia Lilás, Territórios das Cidadania e sindicatos locais. Em Vereda Funda, mulheres atuam dentro da cooperativa agroextrativista COOPAV e, ainda, em grupos produtores de biscoito e pão, acessando o PNAE com apoio do projeto Mais Gestão. Em Vereda Funda, mulheres atuam dentro da cooperativa agroextrativista COOPAV e, ainda, em grupos produtores de biscoito e pão, acessando o PNAE com apoio do projeto Mais Gestão. Em Água Boa, a COOPAAB produz polpas de frutas nativas e exóticas, produzidas de forma agroecológica, e se organiza atualmente para construir um viveiro e comercializar mudas de frutíferas.

As rodas de conversa, que no início falavam sobre produção, auto organização, planejamento e avaliação, agora começam a tratar de temas de gênero, direitos da mulher e violência doméstica. “Sinto que a gente precisa instigar esses temas, ou as mulheres não trazem. Temos que fazer esse trabalho com cuidado, envolvendo as famílias, para tirar esse preconceito que existe sobre os grupos de mulheres”, aponta Germana Platão, colaboradora do CAA/NM.

No campo, a situação da mulher ainda é de invisibilidade. A divisão sexual do trabalho determina a casa e a família como espaços do feminino, e suas tarefas não são reconhecidas como trabalho “de verdade”. “No meio rural ainda é muito presente essa história de que é o homem quem sustenta a família, diferente do meio urbano. Tudo isso é complicado de lidar”, conta Paula Ribeiro, colaboradora do CAA/NM. “Temos que ter cuidado, começando [as rodas de conversa] primeiro em espaços mistos. No começo das atividades, as mulheres estão tímidas. Mas no decorrer elas vão se empoderando, colocando opiniões e demandas”. A experiência de produção colaborativa, com geração de renda, faz com que as mulheres se reconheçam como agricultoras familiares, com seu papel na família e na comunidade.

E o que empoderar mulheres tem a ver com agroecologia? A resposta a esta pergunta é um chamado para ressignificar nossa própria ideia sobre produção e relações agroecológicas. Como aponta Paula: “se agroecologia for só agricultura orgânica, realmente não tem motivo pra trabalhar sobre questão de gênero. Mas agroecologia não é só produção. Não é só não usar agrotóxico. Agroecologia também envolve várias relações sociais e culturais, com a proposta de harmonia com a natureza e com as pessoas. Não dá pra ser agroecológico e ser violento”.

Paula Ribeiro e Thais Moura, colaboradoras do CAA/NM, levaram a ideia das rodas de conversas para o Núcleo da Serra Geral, onde já existiam vários grupos de mulheres nos municípios de Catuti, Porteirinha, Janaúba, Jaíba, Serranópolis e Pai Pedro. Na segunda metade de 2015, rodas sobre produção e acesso ao PNAE foram realizadas em cada grupo, que trabalham com quitanda, costura, hortaliças e estão incluídos no Ater Sustentabilidade.

No município de Pai Pedro, as colaboradoras iniciaram um novo momento para as rodas: por demanda das próprias agricultoras, foi trabalhada a temática dos direitos da mulher. “Colocamos uma linha do tempo dos direitos, mostrando o papel da Marcha das Margaridas nessas conquistas”, dizem as colaboradoras. Do direito ao voto à linha específica do Pronaf Mulher, as participantes puderam compreender que toda conquista é resultado de muita mobilização. “É um momento que fica claro para elas a necessidade de auto organização, e tudo o que ainda temos para avançar”, sintetiza Paula. “Elas mesmas chegaram a dizer, por exemplo, que a Lei Maria da Penha é um avanço, mas o ideal mesmo é a violência nem chegar a existir”.

Momento de formação em Pai Pedro

 

Ater Agroecologia e seu novo desafio para o trabalho com mulheres

A nova chamada de Ater Agroecologia prevê 30% de suas atividades voltadas para mulheres. O CAA/NM está se planejando, nos lugares onde o Ater atua, com o objetivo de organizar estas atividades – que podem ser individuais, de visitas e acompanhamentos dos agroecossistemas nas propriedades; ou coletivas, como oficinas e intercâmbios. “É um avanço que a gente conseguiu. E é um desafio”, aponta Thais Moura. “Queremos usar a metodologia da Caderneta Agroecológica, para dar visibilidade ao trabalho que a mulher faz dentro de casa. Às vezes parece que a mulher não trabalha, é só dona de casa, só cuida da horta, mas se você monetarizar este trabalho, você vê que ela gerou renda para a família. Além de zelar pela soberania alimentar da comunidade”.

Criada pelo Centro de Tecnologia Alternativa da Zona da Mata Mineira (CTAZM), a Caderneta Agroecológica traz um quadro em que as próprias agricultoras podem acompanhar o que vem produzindo, doando e vendendo. Utilizando este instrumento, o CAA/NM também procura construir um monitoramento junto às agricultoras, mapeando e caracterizando grupos de mulheres, compreendendo seus trabalhos e anseios.

 

Clique aqui para ter acesso a Caderneta Agroecológica.

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Postado por: Cibelih Hespanhol Torres