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Proteger o Cerrado para Garantir a Vida! Diante de grave crime ambiental e grilagem de terras públicas, Geraizeiros vão à Luta pela Defesa do Território!

Publicado em 29 de Agosto de 2024 às 21:46

Proteger o Cerrado para Garantir a Vida! Diante de grave crime ambiental e grilagem de terras públicas, Geraizeiros vão à Luta pela Defesa do Território!

Mesmo diante de um cenário caótico e sombrio, resultado da crise e emergência climática que produz seca extrema e ameaça os ecossistemas, no Cerrado, que é considerado a “caixa d’água” do país, o desmatamento tem batido recorde, sendo alvo de exploração para benefício de grandes empresas capitalistas. Neste contexto, os Povos e Comunidades Tradicionais, que dependem do Cerrado para a manutenção dos seus modos de vida, são drasticamente afetados, restando como opção, o enfrentamento e a luta pela defesa dos seus territórios, para a garantia da sobrevivência.

No município de Rio Pardo de Minas, no Norte de Minas, as comunidades Geraizeiras, Santana e Riachinho, há anos vêm lutando pela defesa do Cerrado e contra o avanço de uma empresa grileira de terras públicas dentro do seu território tradicional. Entretanto, no mês julho deste ano, 2024, essas comunidades foram surpreendidas com nova investida de uma empresa, que se dizia ter comprado as terras e desmatou uma grande área de chapada, cerca de 1.200 hectares. Um CRIME ambiental com graves consequências, destruindo uma diversidade de plantas medicinais, frutos nativos, extinguindo animais, entristecendo e acabando com a paz das famílias e moradores locais. O desmatamento de centenas de hectares de Cerrado, sem o devido licenciamento ambiental, deixou o solo totalmente exposto e com terra solta, o que significa que, quando chover, esse material será carregado para as baixadas e, consequentemente, irá assorear os rios e soterrar as nascentes d’água. Frente essa realidade, as comunidades se juntaram e resolveram ir à luta: barraram a empresa, interromperam a continuidade do desmatamento e acamparam na área para demarcar, reivindicar seus direitos, cobrar uma ação do Estado e retomar seu território.

  

    

Imagens da área desmatada e a presença das comunidades reunidas para a defesa do território. Fotos: Valdir Dias
 

Protagonizado pelos moradores das comunidades de Riachinho e Santana, o Movimento Geraizeiro e Articulação Rosalino Gomes de Povos e Comunidades Tradicionais, o CAA/NM produziu um documentário mostrando a realidade após o desmatando/crime ambiental e a história do contexto do território, contada pelos moradores. Assistam a seguir:

Embora a área que foi quase totalmente desmatada esteja titulada em nome do Estado de Minas Gerais, está inserida no território tradicional dessas comunidades Geraizeiras que ali sempre viveram e conviveram, desde as gerações passadas, como narrado pelos personagens do documentário. Dona Alvanita, por exemplo, carrega em sua memória as andanças pelo território, com seus pais, onde encontravam diversos frutos, animais silvestres e gados, de criadores das comunidades que soltavam coletivamente na chapada, que eram reconhecidos por marcas de ferro. Os moradores, também, relembram as mudanças ao longo do tempo, uma vez que as comunidades tinham água em abundância e solos férteis e, com a chegada das empresas tudo foi mudando, dificultando a vida dos povos. De forma unânime, os personagens deste documentário relatam as falsas promessas que as empresas traziam às comunidades, criando narrativas de desenvolvimento, progresso e geração de emprego. “Sabemos que isso é mentira. Já vimos isso acontecer antes e eu não quero ver meus filhos e meus netos passarem por isso novamente”. Este é o sentimento de aflição dos moradores. Registrado na memória de Dona Alvanita, os olhos se enchem de lágrimas e o coração aperta ao lembrar dos momentos difíceis que passaram sem ter água em sua casa, não tendo nem para cozinhar alimentos, nem lavar seus talheres e ver seu filho sendo motivo de zombaria na escola, por não tomar banho, por falta d’água. É triste e revoltando ver o povo oprimido e o Cerrado sendo devastado. Ainda perguntamos: que tipo de “desenvolvimento” estamos falando? Este é o “progresso” que o país precisa para avançar?    

Tudo o que a comunidade conseguiu recuperar dos impactos ambientais passados (que mesmo com pouco recurso, aos poucos recuperou áreas, fazendo bacias de contenção, desentupimento de nascentes) e o que a natureza regenerou automaticamente, hoje foi perdido e a história se repetiu, com esse crime ambiental. Sem desistir, esse FOI, É e SERÁ o motivo no qual os povos, irmanados e unificados, lutaram e lutarão, não só pela terra, mas pela dignidade e direito, pelo amor à natureza, ao Cerrado e pela defesa da VIDA.

Que o Estado possa agir diante desse ocorrido e que as comunidades Geraizeiras possam ter seus direitos reconhecidos, seu território de volta e que seus modos de vida possam continuar, como sempre fizeram, zelando do planeta e das gerações futuras.

 


Postado por: Valdir Dias da Silva
Editado por: Valdir Dias da Silva