Publicado em 1 de Fevereiro de 2019 às 19:53
O povo indígena do Xingu (MT) possui características próprias, como a diversidade de línguas, as várias etnias em um mesmo território, além do sistema agrícola de seu povo. Entre eles é comum a forma de manejo por meio do fogo no roçado, como forma de preparar a terra para receber plantação de alimentos no solo de terra preta de índio, conhecida como capoeira. As aldeias são formadas pelos povos das etnias Ikpeng, Kaiabi/Kawaiwete e Yudja, cada uma com uma maneira organizacional distinta.
Ao longo dos anos, o povo das aldeias Tuba Tuba, Capivara, Samaúma e Arayo iniciaram um processo de recuperação desses territórios, com o objetivo de reflorestar essas áreas de capoeiras, que anteriormente estavam ocupadas por uma espécie de capim, denominada “braquiarão”. A partir disso surge o projeto denominado “Práticas e posturas, atitudes pela soberania alimentar no Xingu”, com o objetivo de contribuir para a recuperação de capoeiras como áreas agriculturáveis e criar referências no fortalecimento da produção de alimentos, por meio do diálogo com as formas agrícolas tradicionais.
Foi apresentado então o manejo sustentável que tem como foco frear a queima do roçado, que hoje, com a mudança no ritmo das chuvas e existência das condições de seca no Cerrado, além da retirada de mata do entorno da terra indígena para produção de monoculturas de soja e outros commodities, tem causado mudanças na dinâmica dos ecossistemas dentro da TI.
Katia Ono, representante do projeto, conta que cada aldeia concebe os processos de plantação de forma diferente, cada uma levando em consideração sua maneira de organização, e que para a maior parte dos povos indígenas, a origem dos alimentos agrícolas está associada ao uso do fogo, o que torna bastante emblemático o manejo do roçado sem fogo.
“Na comunidade Arayo, região do médio Xingu, começamos primeiramente o processo de restauração florestal, substituindo o capim existente na área por espécies nativas e logo depois partimos para a plantação de alimentos, como a banana, mandioca e outras espécies de roças da cultura local, fazendo com que o capim não cresça mais na área e ainda forneça nutrientes necessários para o desenvolvimento das espécies. Na comunidade existe uma ascensão das coletoras Yarang, um movimento do povo Ikpeng, sendo nesse sentido as regras ditadas pelas mulheres da aldeia”, conta.
“Na aldeia Samaúma, que lidera há algum tempo um processo de conservação de espécies agrícolas, foi realizado também o manejo sustentável com vegetação cobrindo a área plantada, mas essa ideia é muito diferente da forma como eles faziam, se tornando um grande desafio”, acrescenta Katia Ono.
Com as novas técnicas de manejo sustentável apresentadas aos indígenas, foi realizado em novembro e dezembro de 2018 plantação de espécies arbóreas, como caju, mamoninha, carvoeiro, jatobá, embaúba, amoreira, mutamba, baru, inajá, copaíba, bacaba e urucum, sementes agrícolas e mudas das rocas tradicionais, como milho, batata, cara, feijão, mandioca. Além disso foram realizadas poucas plantações de mudas de açaí, buriti, bacaba, cupuaçu, mogno e sementes de buriti e açaí na nascente do córrego, aldeia Tuba Tuba, tendo sido realizada em mutirão, com grande participação das mulheres, das suas filhas e filhos.
Tariaiup Kayabi, da aldeia Samaúma, revela como está animado com a nova técnica de manejo e o que já foi realizado em sua aldeia: “Onde nós plantamos já estão nascendo as primeiras plantações de mandioca, banana, mamão e árvores. As bananas queremos fornecer aos estudantes da escola como merenda escolar e o recurso arrecadado será destinado para aplicação na roça”.
Postado por: Paula Lanza Barbosa
Editado por: Paula Lanza Barbosa