Publicado em 4 de Abril de 2018 às 15:55
Nos dias 16 e 17 de março, o Sindicato dos Trabalhadores e das Trabalhadoras Rurais de Riacho dos Machados, que tem como presidenta a agricultora Joeliza de Brito, realizou o seu 2º Seminário de Mulheres. A atividade reuniu agricultoras familiares e lideranças do município e de comunidades vizinhas, que participaram de debates trazidos por palestrantes de entidades diversas.
Joeliza de Brito, que também é diretora-secretária do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA-NM), iniciou a atividade com um momento de silêncio em respeito à companheira de luta Marielle Franco, executada por não ter se calado frente a tantas injustiças contra os oprimidos.
“Que a gente possa ter mais entendimento acerca dos nossos direitos e daquilo que conquistamos ao longo dos anos, vitórias essas que estamos perdendo. Temos assistido à chacina das nossas companheiras e companheiros de lutas. Por isso, nós mulheres temos a obrigação de caminhar juntas e fazer o enfrentamento. Marielle é uma guerreira que lutou e deu a vida em nome daqueles menos favorecidos no nosso país. Vamos fazer um momento de silêncio, lembrando não apenas de Marielle Franco, como também de todas as companheiras que tombaram na luta e que continuam tombando nos dias de hoje”, comoveu-se.
Eliane Souto, da Secretaria de Mulheres da Fetaemg, reforçou a fala de Joeliza: “A gente precisa, nesse momento que estamos vivendo no país, continuar firmes na luta, enquanto mulheres, enquanto mães, porque se a gente não se organizar e continuar lutando e com a esperança de que possa vir a melhorar, a gente não sabe o que pode vir a acontecer com o nosso país”.
Leninha Alves, coordenadora de articulação do CAA-NM, lembrou que, além das chacinas no campo, a fome voltou a assolar o país: “Quem mora na área rural do norte-mineiro está sofrendo em dobro os efeitos do golpe, porque além de termos sido impactadas com os cortes dos programas sociais, também existe o fator da seca, da falta de água, dos efeitos das mudanças climáticas provocadas pela ação do homem na natureza, que prejudicam a produção de alimentos para subsistência. Temos visto a fome voltar ao país novamente”.
Comissão de Mulheres
Ao longo do seminário surgiram diversas denúncias sobre a situação do município, dentre elas, a falta de transporte escolar, a precariedade das estradas que levam às comunidades, bem como o fechamento das escolas por falta de pagamento dos funcionários há mais de seis meses.
A fim de buscar regularizar a situação exposta, foi criada a Comissão de Mulheres Trabalhadoras Rurais, que reuniu todas as demandas levantadas pelas participantes em um documento que foi entregue no dia 20 de março, na Câmara Municipal de Riacho dos Machados.
Leninha Alves também falou sobre a importância das mulheres ocuparem espaços de poder. “Gostaria de saudar a Joeliza, presidenta do Sindicato, e todas vocês que vieram ao Seminário, pois a gente sabe que ainda são poucas as mulheres ocupando espaços de poder pelo Brasil afora. É um desafio muito grande, pois muitas vezes, além de termos todas as atribuições domésticas, ainda saímos às ruas para lutar pelas causas coletivas de todas nós!”, exclamou.
Combate ao machismo
Também foram discutidas as várias faces do machismo embrenhadas na nossa sociedade até os dias atuais. Irmã Graça, da Congregação das Irmãs Franciscanas Missionárias da Encarnação, apresentou as diversas formas de violência sofridas pelas mulheres: “Vamos superar essas violências a partir do momento em que nos perguntarmos se estamos nos apoiando ou se estamos dificultando a vida umas das outras”.
A agricultora familiar do Assentamento Tapera (município de Riacho dos Machados) e sócia-fundadora do CAA-NM, Jesuilda Celeste Souza do Carmo, mais conhecida como Didi, já acredita que é necessário incluir os homens nas discussões: “É muito bom ter um momento de nós mulheres. E temos que voltar para as nossas comunidades com a missão de repassarmos tudo o que aprendemos aqui, em reunião ampliada com os homens também, porque o machismo continua lá entre nossos filhos, maridos e amigos. Muitas vezes, eles não identificam certas atitudes como machismo”.
Ela ainda relatou a situação da mulher do campo no país: “Nós mulheres, trabalhadoras rurais, trabalhamos na roça, tratamos do porco, tratamos da galinha, lavamos louça, cuidamos da casa, preparamos as refeições, criamos os filhos, a gente não tem descanso. É quase um trabalho escravo. Aí nossos maridos, quando chegam em casa, têm um tempinho pra relaxar e assistir TV até a janta ficar pronta. Na maioria das vezes, eles não dividem conosco os afazeres de casa”.
O 2º Seminário de Mulheres de Riacho dos Machados se encerrou com a apresentação da cartilha elaborada para a V Conferência Geraizeira e o planejamento da participação das mulheres de Riacho dos Machados no evento, além de uma oficina de confecção de produtos de limpeza a partir de resíduos de óleo de cozinha e frutas. Ambas as atividades foram conduzidas por representantes do Sindicato dos Trabalhadores e das Trabalhadoras Rurais de Rio Pardo de Minas.
Postado por: Paula Lanza Barbosa
Editado por: Paula Lanza Barbosa