Publicado em 31 de Janeiro de 2013 às 17:17
Foram três dias de painéis, debates entre pesquisadores e agricultores e busca de soluções para enfrentar as consequências do agravamento das condições climáticas vivenciadas nos últimos tempos. A preocupação dos agricultores familiares com os três anos seguidos de secas rigorosas, reforçou o envolvimento no Seminário Mudanças Climáticas e Agrobiodiversidade no Semiárido Mineiro: avaliação de cenários e construção de estratégias de enfrentamento.
O raizeiro Dalci José de Carvalho, de Turmalina, conta que antes a criação ficava solta pelo cerrado, mas com a venda das áreas para as empresas de eucalipto que prometiam progresso e empregos fizeram com que muitos se desfizessem de seus terrenos . ”Na inocência de acreditar em falsas promessas, a gente acabou cedendo às chapadas e fomos ficando encurralados. Vieram o sistemas tecnológicos para a região, as grades e a chegada do eucalipto acabou com muitas nascentes. Desastre natural sempre teve mas a própria natureza tinha força para restaurar”. A agricultora geraizeira Elisângela Aquino do Assentamento Tapera acrescenta que se não fossem as sementes crioulas, a produção teria sido menor ainda diante dos efeitos climáticas. “As sementes de milho, que temos há mais de 100 anos na região, quase não suportou a seca. Eu vi que muita gente perdeu toda a roça. Nessa última chuva recuperamos um pouco da produção e da semente”.
O pesquisador Rubens Onofre Nodari, da Universidade Federal de Santa Catarina, destaca que os primeiros melhoristas de sementes e insumos foram os agricultores, o que sinaliza um caminho para os próximos anos. “Com o aumento da temperatura algumas espécies não conseguem se desenvolver, a elevação da temperatura também impacta insetos polinizadores. Não vamos enfrentar as mudanças climáticas globais mas podemos amenizar”, destaca o técnico.
Jean Marc Von der Weid, da Articulação Nacional de Agroecologia, defende a prática há 30 anos. Ele afirma que os agricultores têm a alternativa para a produção de alimentos capaz de reabastecer o mundo nos próximos tempos. “A agroecologia é a resposta para alimentar os 9 bilhões de habitantes que teremos na terra em 2050. São sistemas diversificados, econômicos no uso de água, com baixa produção de energia fóssil, Conserva a fertilidade dos solos sem uso de insumos externos, além de serem resistentes aos processos erosivos e apresentarem boa produtividade. A agroecologia praticada pelos agricultores familiares é a forma que o mundo tem que fortalecer e buscar”, afirma.
Durante o encontro houve uma troca de sementes crioulas e um bate papo entre os guardiões de sementes sobre as variedades mais resistentes as mudanças do clima, tempo de produção e sobre as técnicas de armazenamento.
A discussão trazida pelo Seminário é a primeira etapa de um projeto ainda maior, com financiamento internacional da FAO, que pretende diagnosticar como as comunidades do Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha tem lidado com os desafios do aquecimento global além de elaborar uma estratégia para minimizar os efeitos e adaptar-se às novas condições do clima. Uma carta política contendo os principais pontos do encontro será encaminhada aos gestores públicos para que reúnam esforços e executem ações nesse sentido.
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Editado por: Fabiano Cordeiro César