Publicado em 4 de Novembro de 2015 às 10:57
Na última sexta-feira (30), o ministro Patrus Ananias (MDA) visitou a sede do CAA/NM, no Solar dos Sertões. Na sala de reuniões onde o ministro foi recebido, sementes e flores das mais variadas espécies se espalhavam em cores pela mesa: fosse milho, feijão ou abóbora, o que se via era a diversidade de produção dos guardiões e guardiãs da Agrobiodiversidade. “Sou agricultor, guardião de sementes e raizeiro”, assim se apresentou Dalcy José de Carvalho, da comunidade de Olho D’Água de Turmalina. “Aqui tem semente de mais de 300 anos! Mas hoje vemos tudo isso desaparecer por causa do eucalipto e das mudanças climáticas. Isso tudo foi quebrando a identidade do povo. E o povo sem cultura é uma árvore sem raiz”.
O Fórum dos Guardiões e Guardiãs da Agrobiodiversidade do Semiárido Mineiro reuniu cerca de 30 pessoas, entre agricultores, povos e comunidades tradicionais e entidades de apoio do Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha. O momento foi uma oportunidade para que os agricultores e agricultoras pudessem apresentar suas realidades, denunciando os impactos sofridos pela redução da biodiversidade e mudanças climáticas, e demandando maior apoio em políticas voltadas para a preservação das sementes crioulas (adaptadas aos agroecossistemas locais). “As mulheres foram as primeiras a guardar sementes. E até hoje nos preocupamos com isto”, lembrou Maria Neuracyr de Sá, da comunidade de Água Boa, Rio Pardo de Minas. “Precisamos de água, bancos de sementes, técnicos que façam Agroecologia como nossos pais nos ensinaram. A gente pede para que as políticas públicas também pensem nas mulheres”.
Chamar os agricultores e agricultoras de “guardiões” é um reconhecimento público por seu papel silencioso e resistente. São eles que guardam o patrimônio genético das sementes, e o conhecimento tradicional das agriculturas, que são capazes de se manter e germinar frente às ameaças das mudanças climáticas. Desta forma, fazem interagir preservação ambiental e culturas tradicionais com soberania alimentar, numa forma de pensamento que é, a um só tempo, social, cultural, econômica e ambiental. “Em Varzelândia, a gente tem uma experiência de mais de quinze anos de resgate das sementes crioulas, que vem dos pais e dos avós. A gente tem a preocupação de trocar e multiplicar as sementes. Pensar na Agrobiodiversidade é pensar na vida, porque nós não temos a visão de produzir em grande escala, mas produzir com sustentabilidade”, sustenta Edinam da Silva, da comunidade de João Congo, Varzelândia.
Ao final do encontro, o ministro Patrus Ananias recebeu das mãos dos agricultores o Plano da Agrobiodiversidade, que levanta diversas ações estratégicas para a conservação e uso compartilhado da Agrobiodiversidade do semiárido mineiro como adaptação às mudanças climáticas. O plano é resultado de anos de trabalho da Rede da Agrobiodiversidade do Semiárido Mineiro, que une Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha em cerca de 30 organizações, 80 municípios e 15 mil famílias de agricultores familiares. “São propostas concretas, que se baseiam no legado de décadas de ações das organizações. E tem um desafio grande, porque muitas entidades e guardiões podem trabalhar de acordo com seu chão de mundo, mas também demandam que as esferas municipal, estadual e nacional se posicionem para ajudar a construir caminhos de políticas públicas e soluções para responder à produção de alimentos no contexto das mudanças climáticas”, diz Fernanda Monteiro, pesquisadora da UFVJM e representante da Rede.
O ministro Patrus Ananias assumiu o compromisso de levar o debate ao poder público, e a criação de um Grupo de Trabalho, envolvendo a Rede, a delegacia do MDA em Minas Gerais e Secretaria de Agricultura Familiar do Ministério do Meio Ambiente, e lembrou o desafio de se pautar a agricultura familiar no contexto atual: “Nós estamos juntos. Eu vou levar isto aqui até Brasília. Estamos trabalhando no Ministério do Desenvolvimento Agrário com os eixos da Reforma Agrária e Agricultura Familiar. E entendemos que nosso desafio é disputar com o Agronegócio, que além de ter dinheiro, conseguiu criar uma boa imagem. É um desafio enorme”.
Clique aqui para ver os pontos estratégicos do Plano da Agrobiodiversidade.
Postado por: Cibelih Hespanhol Torres
Editado por: Cibelih Hespanhol Torres