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A Lama e sua Sujeira Política

Publicado em 27 de Abril de 2016 às 15:25

A Lama e sua Sujeira Política


O que suja mais: a lama da barragem ou a lama das relações políticas?

Por Fabiano C. César

Já é sabido, divulgado e informado que a barragem de rejeitos da mineradora Samarco cedeu. Já é sabido que a lama destruiu nascentes, propriedades, uma vila inteira, matou animais, matou pessoas e memórias. A lama é pesada. A lama tem rejeitos de minério de ferro. Mas há algo mais pesado. Mais dolorido. Algo que não cabe na indignação das redes sociais. O acordo entre governo e empresas. O silenciamento das vitimas. A entrega para o criminoso do direito de dizer quem é ou não é sua vitima. 


Com o desejo de dar visibilidade, dar voz as vítimas da barragem e dialogar com a sociedade sobre o crime ambiental, diversos movimentos sociais, organizações não governamentais, sindicatos de trabalhadores rurais e povos e comunidades tradicionais promoveram entre os dias 11 a 16 de abril a Caravana territorial da Bacia do Rio Doce. Ouvindo as vitimas, colhendo relatos, vivenciando as experiências causadas pela lama, da barragem e da política, a caravana se propôs colher e encaminhar essas denúncias para o ministério público federal. 


A culminância da caravana, que percorreu da Bacia à Foz do Rio Doce, aconteceu nos dias 15 e 16 de abril em Governador Valadares. Momento de apresentação do que foi visto e sentido e de dar visibilidade às vitimas. 


Daniel Krenak, indígena da aldeia Krenak, vítima da lama (da Samarco, da Vale, da BHP e da nossa política) relatou que a perda dos indígenas não é algo mensurável, “porque o rio é nosso parente, no rio tem nossa espiritualidade”. Assentamentos do Movimento dos trabalhadores Rurais sem Terra perderam suas produções. Cidades estão bebendo água do rio, mesmo com altos índices de contaminação. Vem ocorrendo uma desarticulação da economia dos povos. 


Diante dessa situação, os povos propõem a construção de uma nova narrativa. É preciso educar para uma nova relação com a natureza. A agroecologia foi o grande anúncio dos povos. É preciso fazer luta e anunciar um novo paradigma de relação com a natureza, pautado na agroecologia. Para enfrentar os desmandos, a exploração dos grandes empreendimentos e a cultura política viciada na corrupção.

 


Postado por: Fabiano Cordeiro César
Editado por: Fabiano Cordeiro César