Publicado em 16 de Setembro de 2020 às 14:45
Nos últimos meses, estamos vivenciando uma transformação social que não ocorria desde o início do século XX. Nosso modo de vida, trabalho e relacionamento mudaram drasticamente devido a uma pandemia que parece estar longe de terminar. Em decorrência do novo Coronavírus (COVID-19), os grandes centros precisaram encontrar alternativas para que a sociedade continue funcionando em meio ao isolamento social. A situação dos povos e comunidades tradicionais é ainda mais complexa e delicada. Esses “atores” têm enfrentado dificuldades para comercializar sua produção nas feiras, dificuldade para acesso imediato aos serviços de saúde e materiais de proteção básica como álcool em gel, sabão e máscaras. Além disso, as informações que chegam são confusas e, muitas vezes, provocam mais angústia e incertezas.
Esse cenário desafiador se agravou, ainda mais, devido ao descaso das autoridades que minimizam a gravidade da situação e não buscaram construir soluções coletivas e inclusivas. Estamos convencidos de que o momento é de união do campo e da cidade. Os povos e comunidades tradicionais do Brasil como um todo, estão tendo uma importante atuação no combate às vulnerabilidades impostas pela pandemia que afligem comunidades rurais e periferias das cidades por meio de ações solidárias, mostrando que o uso sustentável dos biomas é possível, ainda que num contexto de séria ameaça.
O Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas - CAA NM está apoiando esses povos e comunidades tradicionais através de diversas ações solidárias. A própria instituição também foi “forçada” a se reinventar, para conduzir os trabalhos seguindo as orientações da Organização Mundial da Saúde, e definiu a elaboração de um Plano Emergencial com diversas ações que estão sendo realizadas ao longo deste período de pandemia, voltadas, principalmente, para aqueles com maior vulnerabilidade social.
Solidariedade na Cadeia do Algodão Agroecológico
Associação de Mulheres Quilombolas do Gurutuba, um dos grupos responsáveis pela produção de máscaras e do algodão de onde extrai o óleo para producão de sabão
Grupos de mulheres de várias comunidades tradicionais encontraram, na fabricação caseira deste acessório de proteção, uma alternativa para garantir renda. No âmbito da “Cadeia do Algodão Agroecológico”, estão sendo confeccionadas e distribuídas cerca de 9 mil unidades de máscaras de proteção com algodão agroecológico. Estão sendo produzidos e distribuídos cerca de 9 mil sabonetes, fabricados a partir do óleo de algodão, que vem sendo manejado, de forma agroecológica, por grupos produtivos, alguns de mulheres, outros mistos, sendo que todos fazem parte de comunidades/territórios tradicionais.
Produção de sabão de óleo de algodão pelo Grupo de Mulheres de Rio Pardo de Minas
A união entre o trabalho feito por essas mulheres e o CAA-NM possibilitou a doação de máscaras para comunidades rurais e periferias da região. O principal objetivo desta ação é ajudar a proteger as famílias que vivem em locais com poucos recursos de combate à COVID-19.
Agricultura Familiar produzindo alternativas pra lidar com a Pandemia
Distribuição de alimentos da agricultura familiar e kits de higiene para famílias no quilombo do Gurutuba e no território Indígena Xacriabá
Em uma outra frente de ação solidária em parceria com o Movimento Sem Terra - MST, foram mobilizadas e distribuídas mais de 4 toneladas de alimentos, oriundos da agricultura familiar, entregues no formato de cestas contendo 12 itens alimentícios, com cerca de 22kg cada, além de conter um Kit de higiene, sendo álcool e sabão.
Os alimentos distribuídos foram produzidos por agricultores familiares, localizados em assentamento da reforma agrária e também em territórios tradicionais, mostrando que a terra na “mão” de quem a vê como “mãe”, cumpre sua função social que é produzir de forma justa.
Ato pelo dia Nacional do Cerrado (11/09) de distribuição de alimentos da agricultura familiar no município de Riacho dos Machados
Para mostrar que é através da agroecologia e dos povos e agricultores familiares que o cerrado resiste, aconteceu no dia Nacional do Cerrado (11/09), a ação de distribuição dos alimentos da agricultura familiar no município de Riacho dos Machados. Foi organizado pelo o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Riacho dos Machados - MG, o CEPF Cerrado, famílias agricultoras da futura Reserva de Desenvolvimento Sustentável-RDS Tamanduá Poções em parceria com o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), o CAA-NM e a Cooperativa Grande Sertão. A distribuição dos alimentos agroecológicos em comemoração ao dia nacional do cerrado é um ato simbólico que mostra a importância dos povos na luta pela conservação e uso sustentável do bioma cerrado.
Produção de feijão favorecida pelo barreiro trincheira em Ponta Dagua, e a direita a produção de hortaliças com água das cisternas do P1MC e P1+2 na em Veredinha
Nos municípios de São João da Ponte/MG e Porteirinha/MG, 201 famílias atendidas pelo programa “Uma terra e Duas Águas” (P1+2) estão incluídas em uma nova fase do programa, que terá o acompanhamento técnico agroecológico da produção, com foco no beneficiamento e canais de comercialização dos seus produtos. A nova fase do programa prevê 05 meses, com visitas técnicas e oficinas. Esta é uma ação que visa ao fortalecimento da produção de alimentos para que as famílias não passem por insegurança alimentar. Visa, ainda, assessorar as famílias e/ou grupos para comercializar sua produção, em um contexto de adversidade e desafios impostos pela pandemia.
Como uma ação mais estruturante e permanente, o CAA-NM está implantando campos para produção de alimentos de Ciclo curto. O objetivo é produzir alimentos a partir do manejo agroecológico, que serão distribuídos para famílias em situação de insegurança alimentar nos territórios e comunidades próximas ao campo implantado. Esse processo já foi iniciado e sua operacionalização deve durar até o final do ano 2020. Após a pandemia esses mesmos espaços serão utilizados para salvar e multiplicar sementes crioulas. Sendo que essa era a proposta inicial, ressignificada e adaptada devido à pandemia.
Atuação Nacional
No âmbito do cerrado brasileiro, o CAA/NM, Agência Executora Nacional do Projeto Mecanismo de Apoio Dedicado a Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais no âmbito do Programa de Investimento Florestal – DGM/FIP/Brasil, em conjunto com o Comitê Gestor Nacional do DGM/FIP/Brasil, ampliou o apoio na ordem de um milhão de reais (R$ 1.000.000) para atender mais de 3.000 famílias de povos e comunidades tradicionais residentes em 10 estados do bioma.
O objetivo do Apoio Emergencial adicional às 64 iniciativas sustentáveis já financiadas e em andamento, recuperação de nascentes e áreas degradadas do cerrado; construção de cozinhas comunitárias e agroindústrias; vigilância e gestão territorial e ambiental; entre outras, além de cursos e oficinas de capacitação é de contribuir para que as aldeias, comunidades e famílias, por meio do repasse direto de recurso financeiro ou aquisição de insumos e materiais, possam aplicá-los no enfrentamento direto dos impactos da pandemia da COVID-19.
Postado por: Luciano Santos Dayrell
Editado por: Luciano Santos Dayrell