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Iniciativa conecta jovens do Norte de Minas e do interior da Alemanha

Publicado em 13 de Setembro de 2018 às 15:25

Iniciativa conecta jovens do Norte de Minas e do interior da Alemanha

Jovens de realidades completamente distintas, uns do continente europeu, outros da América Latina, têm algo que os une: o desejo de mudar o mundo. E a partir dessa vontade, mesmo sem se conhecerem, estudantes da Alemanha e do Brasil têm se empenhado para melhorar a vida de comunidades vulneráveis do ponto de vista social, político e econômico.

O projeto teve início com a criação da associação Schüler Helfen, pelas alunas e alunos do colégio Wolfgang Ernst Gymnasium, localizado na cidade de Büdingen, centro-oeste da Alemanha. “Durante todo o ano escolar, os estudantes organizam eventos diversos com o intuito de arrecadar doações para um orfanato na Romênia, uma escola e um hospital no Quênia, e a associação comunitária de Vereda Funda, no município de Rio Pardo de Minas, região norte-mineira”, explica o professor responsável pela iniciativa no Brasil, Claus Wilkens.

Com a quantia arrecadada pela frente de apoio ao Brasil, denominada Projeto Escola Vereda Funda, já foi possível levar internet à comunidade. Por estar localizada a cerca de 50 km de distância da sede do município de Rio Pardo de Minas, essa enfrenta dificuldades para comunicação. Até mesmo o acesso telefônico, na maioria das vezes, se torna difícil. Com isso, a população não consegue ter acesso via internet aos meios de comunicação alternativos que proporcionam a busca de informações e conhecimentos diversos, em contraponto às informações veiculadas pela grande mídia.

Além disso, hoje, na comunidade, existe uma população significativa de jovens que ocupam diversos espaços formativos. São estudantes de escolas estaduais, municipais, e Escolas Família Agrícola (EFAs), universitários cursando Licenciatura em Educação do Campo em instituições federais de ensino superior e universitários de diversas áreas do conhecimento de entidades estaduais.

Sendo a maioria desses cursos no modelo de alternância, os estudantes têm a grande necessidade de um acesso efetivo e de qualidade à internet, para auxiliá-los nos trabalhos e pesquisas acadêmicas no período em que permanecem na comunidade, assim como nas atividades diárias das escolas estaduais e municipais.

Com apenas 22 anos, Rodrigo Almeida Santos já se formou em Licenciatura em Educação no Campo pela UFMG e aguarda convocação para tomar posse em concurso para se tornar professor do sistema estadual de ensino. Segundo o jovem, a internet trazida pelo projeto possibilitou maior conhecimento de mundo, além da facilitação e enriquecimento de pesquisas para a universidade. “Foi muito importante, pois meu curso exigia que eu ficasse conectado quase que diariamente. Eram inúmeros os trabalhos que precisávamos enviar por e-mail, geralmente arquivos pesados, ao mesmo tempo em que recebíamos as avaliações acadêmicas virtualmente”, conta. “Nem sempre achamos todos os conteúdos de que precisamos nos livros e, muitas vezes, também não temos condições de fazer a aquisição de todos os materiais, então a internet serve para preencher essa lacuna”, acrescenta.

Ao mesmo tempo, a internet tem colaborado para a mobilização dos moradores nas diferentes demandas junto à cooperativa local e à associação comunitária, além de possibilitar a divulgação das atividades realizadas dentro do território.

Fortalecimento da cultura geraizeira

O projeto ainda possibilitou a compra de instrumentos musicais, proporcionando maior interação entre os/as jovens e a criação de um grupo de Folia de Reis pela juventude. “Assim conseguimos resgatar uma cultura que estava se perdendo e que achamos importante manter. Já nos apresentamos inúmeras vezes e isso tem renovado o ânimo da comunidade”, Luana Conegundes Soares, de 16 anos, aluna do 2º ano do Ensino Médio e do Curso Técnico em Agropecuária na Escola Família Agrícola de Taiobeiras.

Dessa forma, a iniciativa tem fortalecido o protagonismo juvenil geraizeira. “Pelo fato de termos formado o grupo de jovens a partir do início do projeto, temos nos engajado em várias outras atividades vinculadas indiretamente, como apresentações teatrais, danças culturais e interpretativas e o reflorestamento das nascentes da região”, avalia Lívia Almeida Santos, de 18 anos. “Assim, o projeto nos incentivou a ter mais voz na comunidade, passamos a ser envolvidos nas decisões e organização das atividades”, completa.

Histórico de lutas

A comunidade de Vereda Funda é localizada na zona rural do município de Rio Pardo de Minas, região norte-mineira, reconhecida como comunidade tradicional geraizeira e pertencente ao Projeto de Assentamento Agroextrativista Veredas Vivas. Na década de 1970/1980, enfrentou a chegada da monocultura de eucalipto na região, a qual trouxe uma série de perdas para a fauna, flora e recursos hídricos, e consequentemente diversos agravantes para a população, pois os moradores sempre fizeram uso desses recursos de forma sustentável em benefício da própria comunidade.  Após vários anos convivendo com essa monocultura, a comunidade se organizou e juntamente com seus apoiadores iniciou uma luta para reconquistar seu território, que se concretizou depois de muitos enfrentamentos.

 

 


Postado por: Paula Lanza Barbosa
Editado por: Paula Lanza Barbosa