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História da Comunidade Tradicional Geraizeira Sobrado: Exemplo de Luta na Conservação Ambiental e Defesa do Território

Publicado em 5 de Junho de 2024 às 20:19

História da Comunidade Tradicional Geraizeira Sobrado: Exemplo de Luta na Conservação Ambiental e Defesa do Território

No dia Mundial do Meio Ambiente, lembremos: para que haja continuidade da vida no planeta é preciso que tenha preservação dos Biomas e dos Povos, que deles cuidam.

A Comunidade Sobrado, que é autoreconhecida pleos seus moradores, como uma Comunidade Tradicional Geraizeira, está localizada no Município de Rio Pardo de Minas, no Norte de Minas Gerais. É conhecida, principalmente, pela quantidade de água existente, tendo nascentes e córregos que são fundamentais afluentes para abastecimento do Rio Pardo. Todavia, a existência da água e o terriório preservado é fruto de uma grande luta. Parte disso podemos conferir a partir de histórias contadas, por uma das liderenças comunitárias, durante uma entrevista.   

 “É uma sensação de vitória! É muito prazeroso lutar, vencer e hoje ter água na minha torneira. Isso incentiva a gente permanecer na comunidade.”

 

  

Zé Sabiá morador da comunidade sendo entrevistado e mostrando a água saindo de sua torneira. (Fotos: Valdir Dias)

 

Um sentimento e expressão de uma pessoa que, com orgulho, conta histórias vividas em sua comunidade, para conservar o território e as águas. Zé Sabiá, como é popularmente conhecido, é morador e uma das lideranças da comunidade, já foi presidente da associação de moradores da comunidade e sempre contribuiu no processo de luta pela conservação do seu território. Algo sagrado, lugar onde estão suas raízes, familiares, histórias e algo precioso que é vida para a comunidade, a água.

A comunidade Tradicional Geraizeira Sobrado é rica de diversidade de cultura e tradição de um povo acolhedor, composta por aproximadamente oitenta famílias, formadas de gerações antigas e com um grau de parentesco próximo. Com o seu bioma Cerrado, ela é composta de lindas paisagens e possuem uma vasta riqueza de frutos do e plantas medicinais.

  

Paisagens da comunidade Sobrado, com matas e águas preservadas. (Fotos: Valdir Dias)

 

Extrativismo

O extrativismo, como a coleta do pequi para a produção de óleo, sempre foi uma atividade que compõe o modo de vida dos moradores e que contribui na renda financeira de muitas famílias. Mas para a comunidade, algo ainda mais valioso é a água. É ela e por ela que as famílias hoje moram e usufruem de seu território.

Umas das fortes características da comunidade, na fala de Zé Sabiá, são as “reservas”, que são áreas de grandes extensões de chapadas e matas com presença de animais e próximas às nascentes responsáveis pelo abastecimento hídrico da comunidade. 

 

Conflitos e luta pela defesa do Território

Porém, para a existência desta água e áreas preservadas, como de extrativismo, até hoje, a comunidade passou por diversos momentos de desafios, conflitos e lutas. Pois assim como um grande histórico semelhante a outros territórios, de pessoas que vem de fora para exploração que visa o lucro, na comunidade Sobrado tudo iniciou com a entrada de um posseiro e empresário degradando as áreas e que foi resultando na morte de nascentes e diminuição da água. Neste cenário, segundo Zé Sabiá, começou nos anos, cerca de 2001 a 2002, alguns moradores compreenderam a situação que estavam acontecendo, tentaram dialogar e alertar o empresário sobre suas degradações e ele não parava. O caso foi levado para reuniões comunitárias e mesmo assim continuava, foi então que a comunidade decidiu envolver a justiça. A luta começava ali e durou mais de aproximadamente dez anos até a comunidade reconquistar parte de seu território.

 

Criação da Lei Municipal João Tolentino

Neste processo, uma das ações judiciária estudada e que se tornou objetivo para os moradores foi a criação da Lei Municipal João Tolentino, essa que preserva e reconhece a comunidade como território tradicional. Disso, após anos de luta e resistência veio conquista no ano de 2015 a aprovação da Lei. 

Zé Sabiá mostrando o mapa com os limites do território com a criação Lei João Tolentino. (Foto: Valdir Dias)

Com o território preservado pela Lei, a comunidade consegue ter mais paz e apoio para assegurar seus direitos territoriais e da água. Hoje, se chega algum empresário querendo implantar alguma atividade no território, o primeiro passo é consultar a Lei e a comunidade quem decide e, numa decisão pensada para a vida e bem comum, ou seja, se é algo que vai prejudica-lo é barrado. Atualmente, outra estratégia que a comunidade usa para a conservação de suas águas é a comunicação e conscientização dos moradores através dos encontros comunitários e reuniões de associação, afinal, mesmo a conquista e criação da lei a luta continua. 

Moradores que resistiram, como Zé Sabiá, além de morar no território, carrega consigo seu sentimento de amor, orgulho e pertencimento. Hoje, ele e sua comunidade celebram a conquista e continua trilhando suas lutas e compondo suas histórias.

 

 

Zé Sabiá em sua casa cuidando de seus animais e na imagem seguinte, participando de uma atividade prática de medição de vazão do rio, durante o curso de Hidrologia Poupular e Seguranção Hídrica, realizado pelo CAA-NM e HEKSe. (Foto: Valdir Dias)

A história do Sobrado é vista mundialmente, ela inspira e mostra força e zelo dos povos na defesa, não só dos territórios, mas da conservação de toda a biodiversidade, biomas, ecossistemas, fauna, flora e próximas gerações. Para que haja vida no planeta é necessário que tenhamos biomas preservados e com a presença dos Povos e Comunidades Tradicionais. 

 

 


Postado por: Valdir Dias da Silva
Editado por: Vinícius Alves Pires