Publicado em 26 de Agosto de 2013 às 15:44
Helen Santa Rosa e Kelly Cristina de Aquino – Comunicadoras da ASA Minas/CAA/NM - Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas, Montes Claros/MG
Em meio as Festas de Agosto, a Articulação Rosalino de Povos e Comunidades Tradicionais e o Centro de Agricultura Alternativa do Norte de minas – CAA/NM realizou no último dia 15, no Solar dos Sertões, o I Encontro de intercâmbio de comunidades gerazeiras com comunidades apanhadeiras de flor. O evento teve como objetivo trocar experiências e fortalecer iniciativas de gestão e proteção aos territórios tradicionais. Estiveram presentes lideranças das comunidades tradicionais, pesquisadores do Instituto Federal do Norte de Minas - IFNMG, universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM, representantes das comunidades eclesiais de base, coordenação e técnicos do CAA-NM. A atividade iniciou com relatos sobre o contexto das lutas e desafios que as comunidades têm enfrentado em seus territórios. Os apanhadores relataram que o Parque Nacional das Sempre-Vivas foi instalado sem consulta à comunidade no território onde eles vivem há séculos. “Perdemos nossos direitos. Além de preservarmos a natureza, cuidamos dela. Estamos impedidos de continuar nossas atividades. Trabalhamos para a subsistência. O apanho de flores é nosso modo de vida”, explica a apanhadora de flores da região de Diamantina, Maria de Fátima Alves.
As comunidades geraizeiras da Serra Geral e Alto Rio Pardo apresentaram reivindicações referentes aos impactos negativos da instalação de mineradoras na região, danos ambientais causados pela monocultora do eucalipto e a luta pelo acesso a terra. Segundo a irmã Maria Tomazini, da congregação da Divina Providência no município de Salinas, a luta dos gerazeiros é grande e a união é fundamental. “Temos que unir em defesa da terra, nascentes e o cerrado. Sempre baseado na defesa dos direitos humanos”, pontua. A comunidade Quilombola de Vargem do Inhaim relatou sobre as desapropriações na região e o sofrimento que as famílias estão passando. “Estamos lutando pelo manejo das águas, agricultura sustentável e extrativismo. Perdemos tudo isso, por causa das desapropriações”, esclarece o presidente da associação Quilombola, Normandes de Jesus Cruz.
As comunidades apanhadoras de flores entregaram ao CAA-NM e a Comissão Rosalino de Povos e Comunidades um abaixo-assinado feito pelas comunidades localizadas no território, onde foi criado o Parque Nacional das Sempre-Vivas, direcionado a Diretoria do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBIO e a sociedade. No documento constam centenas de assinaturas de agricultores e agricultoras, que denunciam as restrições de ir e vir impostas na região; reforça a necessidade de reaver o seu meio de obtenção de renda, a partir da prática da agricultura tradicional e o extrativismo, principalmente gerada na coleta das flores sempre-vivas e o agravamento da situação de miséria. As comunidades afirmam que a criação do Parque desconsiderou os direitos das famílias residentes no interior e no entorno do parque.
Para o diretor Geral do CAA/NM, Braulino Caetano dos Santos, o acesso a esse documento e a realização desse encontro é uma forma de conhecer as experiências e traçar estratégias de enfrentamento às injustiças sofridas por essas comunidades tradicionais. “É necessária à unificação das comunidades. Cada uma tem suas particularidades, mas que estejamos unidos para resolver esses problemas, ” analisa.
Editado por: Helen Dayane Rodrigues Santa Rosa