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Campanha do Solar do Sertão: Museu Vivo dos Povos Tradicionais de Minas Gerais”

Publicado em 5 de Janeiro de 2021 às 13:04

Campanha do Solar do Sertão: Museu Vivo dos Povos Tradicionais de Minas Gerais”

Para colaborar, acesse o link: Campanha Museu Vivo dos Povos Tradicionais de Minas Gerais

 

Em outubro de 2020, o projeto “Solar do Sertão: Museu Vivo dos Povos Tradicionais de
Minas Gerais” foi contemplado pelo edital Matchfunding BNDES + Patrimônio Cultural . A
proposta é idealizada pela Articulação Rosalino Gomes de Povos Tradicionais e pelo Centro de
Agricultura Alternativa (CAA/NM), com a colaboração do Instituto Pequi do Cerrado.
Após seleção, a proposta do Solar dos Sertões foi escolhida juntamente a outros vinte e três
projetos de diferentes regiões brasileiras que abordam o tema da memória cultural e seus
desdobramentos entre o presente e o futuro.


O Solar dos Sertões: Museu Vivo dos Povos Tradicionais de Minas Gerais nasce do desejo de
reconhecer e preservar o legado cultural de sete povos mineiros: geraizeiros, vazanteiros,
veredeiros, caatingueiros, quilombolas, indígenas e apanhadores de flores sempre-vivas.
Acreditamos que o gesto de olhar para as histórias dessas mulheres e homens é restituir a
memória da resistência percorrida por essas comunidades em prol da proteção do cerrado e
outros biomas que compõem Minas Gerais. Para salvaguardar e revelar essas histórias no
Solar dos Sertões, contamos com sua solidariedade. Vamos, juntos, construir essa história!


Há um elo em comum na cultura desses povos que torna os seus saberes coexistentes aos
ciclos da natureza que os cerca, algo que traz uma potência agregadora para todos nós diante
do momento de inúmeros desafios socioambientais postos para nossa sociedade. Buscamos
dois caminhos nesse projeto: construir um espaço museológico físico no Solar dos Sertões,
um edifício histórico tombado, e criar uma plataforma virtual que possibilitará a imersão dos
visitantes na cultura de cada comunidade. Para isso, iremos realizar pesquisas de campo
envolvendo jovens comunicadores populares e guardiões dos saberes tradicionais na gestão
de acervo dos bens culturais, e na criação de exposições itinerantes, caminhando para a
preservação, promoção e inclusão dos modos de vida dos povos tradicionais.


Para financiar a primeira etapa do projeto, precisamos do seu apoio para arrecadar a meta
mínima R$ 60.000,00. A cada R$ 1,00 arrecadado o BNDES triplica a colaboração. Se não
conseguirmos atingir a meta, o valor arrecadado é devolvido aos doadores. Por isso, a sua
contribuição é muito importante para nos ajudar a alcançar os R$ 180.000,00, é o valor
mínimo para executar o projeto. Dentro de um valor estimado entre R$ 20,00 e R$ 5.000,00,
você pode colaborar conosco e receber como brinde uma lembrança dos povos tradicionais,
de acordo com cada doação. Cada lembrança é também uma expressão dos saberes desses
povos, carrega junto uma história de alguém ou de uma comunidade.


As Apanhadoras de Flores Sempre Vivas habitam a Serra do Espinhaço, em Minas Gerais, na
região de Diamantina. Geralmente as famílias vivem em comunidades rurais nas terras
baixas, onde praticam agricultura tradicional. Já os campos de coleta estão nas terras altas,
conhecidas como terras de uso comum das famílias. São, portanto, terras ancestrais dessas
famílias, que usam e conservam a biodiversidade, as águas e os solos por meio de práticas
tradicionais. Maria de Fátima Alves, apanhadora de flores de Buenópolis (MG), vê nesse
ofício uma riqueza capaz de garantir o sustento da família, “Ser apanhadora de flor é garantir
um ar puro para respirar, é ser guardião da biodiversidade”, ela afirma. A importância desse
legado foi reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a
Agricultura (FAO) com o selo de Sistema de Patrimônio Agrícola de Importância Global
(GIAHS), dedicado a promover o reconhecimento de comunidades tradicionais que mantém
sua diversidade socioambiental, mesmo diante de cenários de conflitos.

 


Nas margens do Velho Chico, Cicero Ferreira de Lima, 64 anos, aprendeu desde a infância a
manejar a terra em seu devido tempo com o furão, uma ferramenta pontiaguda feita de lasca
de aroeira. Como vazanteiro , ele se guia pelo tempo das secas e das águas para cultivar frutos
e legumes nos lameiros, áreas de vazantes dos rios, seja nas margens ou nas ilhas, com
grande potencial produtivo para quem tem o conhecimento de como manejar. A tradição
vazanteira que Cícero aprendeu com seu pai, além de promover a segurança alimentar,
possibilita a vitalidade dos rios e suas margens.

Essa sabedoria que vê no meio ambiente uma forma de coexistência está presente nas regiões
dos planaltos e serras do Espinhaço norte mineiro, no cotidiano do povo geraizeiro,
representado em diversas obras literárias do escritor Guimarães Rosa. “O território geraizeiro
é um lugar onde nós podemos colher todos os nossos frutos do cerrado: o pequi, o fruto de
leite, a mangaba, o rufão”, afirma a geraizeira Marlene Ribeiro. Ali, de acordo com ela,
durante muito tempo não havia cercas, o gado era solto no pasto de uso comum. Embora essa
não seja mais a realidade das comunidades diante de diversos impactos socioambientais, os
geraizeiros seguem afirmando sua identidade reconhecendo as potências do seu modo de
viver.

O povo quilombola mantém com o seu território uma relação ancestral de resistência que
ecoa através dos rituais que ali ocorrem com cantos, batuques e também através da
agricultura tradicional habilmente adaptada às condições de seus territórios com o uso das
sementes crioulas. A quilombola Faustina Soares, 57 anos, liderança da Fazenda Picada,
localizada no Quilombo do Gurutuba, aprendeu desde criança a dança dos batuques nas
Folias de Santos Reis. Essa tradição foi repassada pela quilombola a suas filhas, pois ela
acredita que esse gesto de alegria mobilizado em todo o território encontra na dança um
caminho que une a comunidade e reafirma a importância da cultura negra.

Em diferentes localidades do estado mineiro, 14 nações indígenas vivem através de uma
cultura tradicional que coexiste com a natureza, neste projeto participam os Tuxás e os
Xakriabás. Domingas Xacriabá, 27 anos, relembra a importância do ritual do toré na Aldeia
Caatinguinha, localizada no território Xacriabá em São João das Missões, no norte de Minas.
“De seis em seis meses, para participar da festa fazemos a saia da seda do buriti com as
pessoas mais velha e a juventude”, afirma Domingas. Ela pontua a importância do ritual como uma forma de unir as mulheres da comunidade e de tornar viva a tradição indígena de geração a geração.

 

“Quando você está chegando perto da vereda aí você enxerga de longe os buritis, naquele lugar o mais importante é que existe água e que ali vivem comunidades, os veredeiros.” Essa
fala do veredeiro Santino Lopes, da comunidade Água Doce, retoma um princípio que guia a
comunidade: preservar as veredas para que delas possa se ter uma forma de existência para a
comunidade que ali vive. Através da biodiversidade desse território, esse povo ao longo de
gerações mantém uma cultura tradicional que bebe de referência afro indígenas e nos revela
características singulares que abarca os saberes em torno das veredas e do cerrado, do
extrativismo dos frutos e plantas medicinais, da agricultura tradicional, de folias e dança.
Entre elas, a dança de São Gonçalo é um saber praticado apenas em comunidades de
veredeiros. São doze passos que precisam ser dominados com maestria para realizar o gesto
da dança.

 

“Em um período de poucas chuvas, as pessoas aqui tinham a batata do umbuzeiro para fazer
farinhas'', relembra seu Geraldo, que vê nesse exemplo a realidade de como a caatinga
oferece inúmeras possibilidades de usufruir da sua riqueza agroecológica. Desde os sete anos
o caatingueiro Geraldo Gomes, 57 anos, aprendeu com o avô a importância de cultivar
sementes crioulas. Essa tradição lhe possibilitou construir maior autonomia alimentar e a
entender como esse bioma dispõe de um patrimônio da biodiversidade. Hoje, no banco de
sementes comunitário, ele abriga um dos maiores acervos de sementes crioulas da região que
contribuem diretamente para que famílias catingueiras possam ter uma alimentação rica e
adaptadas para as variações climáticas durante o ano. Para se ter uma ideia do potencial, o seu
banco abriga só de feijão mais de 70 variedades.

Histórias dessa natureza são um legado geracional para a humanidade. Para salvaguardar e
revelar essas histórias para outras pessoas, acreditamos na importância da construção de um
museu dedicado a mostrar a pluralidade que envolve os modos de vida dos povos
tradicionais. Além dessa missão que norteia o Solar dos Sertões, nos dedicamos a construí-lo
em formato físico e através de uma plataforma virtual a partir de conteúdos criados e curados
pelos povos, com o objetivo de tornar os saberes tradicionais acessíveis ao público.

 

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Postado por: SARAH GONÇALVES FERREIRA
Editado por: André Filipe Nunes Silva Mendes