Os Quilombolas
A população tradicional de maior incidência no território norte mineiro, os quilombolas, emergiu no cenário social hodierno, devido ao Art. 68 dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição de 1988, o Território Negro da Jahyba, conforme Costa (2005 a). O mesmo se constitui por um conjunto de grupos negros localizados em margens de lagoas, ribeirões e rios que formam a bacia do rio Verde Grande. Suas relações, além de percorrerem todo o vale deste rio, eram estabelecidas com povoações ao longo da bacia do rio São Francisco, notadamente Brejo do Amparo, Morrinhos e Malhada, e nos altiplanos com Contendas, São José do Gurutuba, Porteirinha e Tremendal.
Diversos grupos de quilombolas se articulam em um movimento de reconhecimento social e de reapropriação de seus territórios ancestrais, mas principalmente o de Brejo dos Crioulos, nas margens do rio Arapuim, divisa dos municípios de São João da Ponte e Varzelândia e os Gurutubanos, comunidade negra estabelecida ao longo do rio Gurutuba, abaixo da cidade de Janaúba. Estas duas comunidades são representativas de outras dezenas que vivem nas planícies sanfranciscanas. Comunidades que dialogam com os vazanteiros do São Francisco e com os remanescentes dos Xakriabá, que vivem no município de São João das Missões. São comunidades que mantêm aspectos significativos de sua cultura, de sua reprodução social, enraizados na diversidade ecossistêmica presente nas planícies sanfranciscanas e que hoje, em efervescência social, se apresentam como grupos sociais oportunizando a possibilidade da construção de um viver pautado em suas características sócio-culturais e econômicas específicas.
A partir dos anos 1960 há uma hierarquização dessas comunidades em vistas de sua proximidade ou afastamento da racionalidade urbana, que se torna hegemônica em todo o norte de Minas, conforme análise de Brito e Outros (2003) estudando a comunidade negra de Maravilha. Com a chegada dos “brancos” e do “desenvolvimento” promovido pelos gestores governamentais, dos anos 1970 em diante, a paisagem foi subitamente alterada, impactando os recursos naturais e comprometendo os sistemas agroalimentares das comunidades negras do território da Jahyba.