Publicado em 6 de Julho de 2017 às 17:29
Por Carlos Dayrell,
colaborador CAA/NM e NIISA e doutorando PPGDS/Unimontes
O V Colóquio Internacional de Povos e Comunidades Tradicionais foi realizado entre os dias 23 e 27 de junho, em Hofgeismar, na Alemanha. O encontro reuniu 180 pessoas, entre representantes de organizações de ensino e pesquisa, pastorais e ONGs, além de pesquisadores e lideranças de povos e comunidades tradicionais da África, Ásia, América Latina e Europa. Em quatro dias de debates, apresentações de pesquisas, relatos e intercâmbios de experiências, foram debatidos temas relacionados com identidade, direitos territoriais, migração e economias.
O Brasil participou com uma grande delegação, incluindo pesquisadores, técnicos e lideranças do Norte de Minas, Belo Horizonte, Pará, Maranhão, Amazônia e Mato Grosso. A Articulação Rosalino e o Conselho Nacional de Populações Extrativistas participaram com lideranças indígenas dos Povos Xakriabá, Tuxá e extrativista de Curralinho (Pará), além de representante da Associação dos Retireiros do Araguaia.
Os resultados do Colóquio demonstraram a imensa sociodiversidade presente no mundo contemporâneo, estimado em cerca de 3 bilhões de pessoas e que são responsáveis por 70 a 85% da produção de alimentos que são consumidos na própria região ecológica e que encontram-se fora dos instrumentos de estatística e de censos da maioria dos organismos internacionais e nacionais – ou seja, fora do que é considerado o “Sistema Alimentar Mundial”. Povos que vivem na inviabilidade social e econômica e que vem sofrendo toda sorte de violências, injustiças e discriminação. São povos que, no dizer de Hilário, representante do Povo Xakriabá, apresentam um profundo conhecimento e respeito pela natureza: “é a mãe terra que nos sustenta, sem ela não teríamos tudo que temos aqui, nós não vemos a terra como preço de outro, mas como uma mãe, e a mãe a gente respeita”.
Um dos aspectos importantes do V Colóquio foi a inserção dos debates dos direitos dos Povos e Comunidades Tradicionais puxado pelo Brasil e, em particular, pelo Norte de Minas, e sua repercussão e reconhecimento internacional. Porém, como afirmou o pesquisador Dr. Alfredo Wagner existe o reconhecimento, mas ainda não a redistribuição. Segundo a professora Dra. Isabel Cristina Brito, da UNIMONTES, a desigualdade na ordem do dia da realidade dos povos e comunidades tradicionais no Brasil tem o seu germe imposto pela colonização, e vem se reinventado a cada período de sua história. Isabel situa a importância do Colóquio Internacional como espaço em que todos tem lugar de fala, onde se reconhecem e falam as ciências, tanto as oriundas do pensamento científico como a dos povos tradicionais, com suas distintas racionalidades e ontologias. O V Colóquio finalizou com a leitura da Carta de Hofgeismar, cidade que sediou o encontro na Alemanha, e com a moção de apoio à luta do Povo Tuxá de Minas Gerais pelo seu território.
Leia, a seguir, a Carta do V Colóquio Internacional de Povos e Comunidades Tradicionais:
CARTA DE HOFGEISMAR
As Entidades, pesquisadores lideranças de povos e comunidades oriundos de quatro continentes- África, Ásia, América Latina, Europa-, reunidos no V Colóquio de Povos e Comunidades Tradicionais, realizado em Hofgeismar – Alemanha de 23 a 27 de Junho de 2017, manifestam sua indignação, protesto e vêm denunciar a escalada de violência, crueldade e assassinatos de brasileiros trabalhadores e trabalhadoras rurais, povos indígenas, comunidades quilombolas e comunidades tradicionais. Assim como reafirmam a necessidade de reconhecimento e demarcação dos territórios dos povos e comunidades tradicionais.
Entre os casos, destacamos na primeira metade de 2017: nove agricultores mortos em Taquaruçu do Norte- MT; Em Rondônia 3 mortos e carbonizados; em Santa Maria das Barreiras- PA, quatro mortos e carbonizados; o ataque cruel aos índios Gamela- MA com amputações; dez assassinatos em Pau D’arco no Pará e do seringueiro de Rondonia José Bezerra e o genocídio dos Grarani Kayowá, inclusive com crueldade contra crianças; o assassinato ocorrido no dia 24 de Junho de 2017, de D. Trindade do quilombo de Jambuaçu, que além de assassinada foi violentada.
Denunciamos ainda a perseguição, criminalização, ameaças de morte e tortura psicológica de lideranças sociais, dos povos e comunidades tradicionais e de pesquisadores/antropólogos.
A violação dos direitos que aqui denunciamos é um ataque à dignidade humana.
Exigimos ações do Estado Brasileiro e da comunidade internacional para punir os responsáveis e coibir esse retrocesso humanitário.
Hofgeismar – Alemanha de 23 a 27 de Junho de 2017
Postado por: Cibelih Hespanhol Torres
Editado por: Cibelih Hespanhol Torres